Heráldica da Junta de Freguesia de Urrós
Armas – Escudo de prata, torre sineira de vermelho acompanhada em chefe à dextra por um cacho de uvas de púrpura, folhado de verde e à sinistra por duas espigas de trigo de ouro, folhadas de verde, com os pés cruzados em aspa; em ponta, três coticas ondeadas de azul. Coroa mural de três torres de prata. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas: “URRÓS”.
História de Urrós
Topografia
Situada na margem direita do rio Douro, a freguesia de Urrós encontra-se a vinte quilómetros da vila de Mogadouro. O seu caráter de fronteira, juntamente com a geografia acidentada marcou seu caráter e evolução ao longo da história.
Alguns autores dizem que seu nome tem uma origem topográfica, enquanto outros sugerem que era de propriedade do Oborrós muçulmano em 1019. O nome de Urros aparece de forma diferente em vários documentos: Urros (840), Urros (840), Duros, Durros, Huros, Orrio (no Foral de 1182). No XIV e XV aparece Orge, Ordo, Orgho e Orio, possivelmente derivado de cevada. Outros autores dizem que o seu nome veriva do feito que a freguesia assenta numa pequena chã, entre dois ribeiros, de vales pouco declivosos e pequenos.
É uma freguesia que tem sofrido uma considerável evolução nos últimos anos. Em meados do século, a agricultura era ainda extremamente rudimentar. No “Guia de Portugal”, Sant’Anna Dionísio referia em relação a esta realidade económica de Urrós: “Estamos em pleno planalto mirandês, solene, desafogado e ascético. Horizontes dilatadíssimos mas indefinidos. Ao longe, para as bandas do norte, desenha-se o discreto vulto azulado da serra de Nogueira. (…)
Sucedem-se as folhas centeeiras, de pousio, entremeadas, aqui e além, de pedregulhada. São terras pobres ou depauperadas, trabalhadas ainda, em grande escala, à maneira antiga, com o velho arado mourisco puxado por dois burricos ou muares. Os tractores já vão aparecendo, mas as seis ou oito sementes que o solo lavrado e semeado dá, no final da canseira, a custo os suporta.”
Uma freguesia muito especial, neste concelho de Mogadouro. Para alguns, mais espanhola do que portuguesa. Por posição e por cultura. Pinho Leal, no “Portugal Antigo e Moderno”, chegava mesmo a dizer através de um curioso discurso: “A gente d’esta freguezia, pella sua vezinhança com a Galliza, falla mais gallego que portuguez. Mas nem por isso detesta menos os gallegos, do que os mais arraianos portuguezes”.
História
Toda a freguesia tem as condições ideais para ter servido com eficácia as populações castrejas, necessariamente precisadas de segurança e de protecção. Urreta Malhada e Cerco são povoados abertos desse período, encontrados há alguns anos nesta freguesia. Em Meirede, foram achadas diversas moedas romanas e outros objectos, como pedaços de cerâmica e machados, da mesma época. Encontram-se actualmente, estes objectos, no Museu Regional de Bragança.
Pré-história. Há alguns indícios que sugerem que no município de Urros eram pequenos enclaves habitada durante o período Neolítico, cerca de 5.000 aC. Estes incluem a gruta do Buraco dos Morcegos, uma imensa caverna no telefone de um penhasco ao longo da margem do rio Douro, que leva o nome de morcegos que estão no seu limite máximo. Existem vestígios de pinturas. Esse tempo também é uma rocha chamada Peña Campã, que soa como uma bigorna, tendo feito cavidades illo tempore pela água.
Iberos. Mas foi o seu personagem que deu a fronteira, ao longo dos séculos, uma condição ideal para se tornar um enclave militar. Durante o período Ibérica, a área foi um castro luso o zoela localizado no Pico de Bouça de Aires, em torno da qual havia várias áreas habitadas. Daí que alguns chamam de Castelo de Bouça de Aires. A partir deste período são contas de vidro azul e um bezerro de ouro. A legenda diz: “Entre o Castelo de Bouça de Aires / E o sítio de Correchá / Há um bezerro de ouro / Quem o achar seu será”.
Romanos. Durante a época romana, uma outra força de pe-flauta um pouco mais ao sul, Urreta Malhada, onde encontraram várias moedas, cerâmica, tecido e um anel de bronze. Perto de São Facundo, elas estão relacionadas a Castro Baldoeiro ou Cidade Baniense. Ele era um foco ativo de romanização, por suas minas de sal e sua localização estratégica na Lusitânia, o que resultou em ainda a criação de um segundo núcleo: Meixide (Meireide atual). Não foram encontradas partes do neolítico (um machado de sílex e um arado de ferro), lápides e moedas romanas (um centavo da época de Augusto, um cunhado de Júlio César em Girona, um asse de Galiano, e um dos Constantino, cunhada em Narbona), agora no Museu Regional de Bragança.
Mas o maior vestígio de povoamento castrejo em Urrós deve ser mesmo o Castelo de Oleiros. Encontra-se num alto fronteiro a Espanha, que terá sido inicialmente um castro lusitano. A romanização não faltou, conforme se depreende dos diversos achados: lápides, esculturas, cerâmica vária (talvez daí o nome de Oleiros), tudo da época romana.
As lendas sobre mouros e mouras, nestes lugares de Urrós, abundam, como aliás em toda a região. Uma delas diz que no Tomelar, numa fraga próxima da ponte do mesmo nome, está gravada a pegada do diabo, que ali bem desempenharia o papel de um mouro amaldiçoado. Diz o povo que o tal mafarrico passou por ali quando corria atrás de Nossa Senhora, em fuga para o Egipto.
Nas Inquirições de 1258, aparece já uma referência à freguesia, embora de forma indirecta. Uma prova da sua existência anterior. Todas as suas terras pertenciam então a vilãos-herdadores e nada à coroa. Por estar junto à fronteira, sofreu sempre as consequências das escaramuças entre Portugal e Espanha.
A nível eclesiástico, Urrós foi inicialmente da paróquia de Sendim até constituir abadia independente. No entanto, o pároco de Sendim apresentou sempre o abade desta freguesia, que por volta do século XVIII tinha de rendimento anual apenas o pé de altar, caso raro, senão único, em todo o País.
Segundo o Cadastro da População do Reino, ordenado em 1527 por D. João III, Urrós pertencia ao termo de Algoso e tinha noventa fogos, a que deveriam corresponder mais de duzentos moradores. Um número importante para a época e que se explica pelo estatuto que logo a seguir à fundação da Nacionalidade adquiriu no concelho em que se integrava. Apenas na sede concelhia vivam por essa época mais pessoas.
Curioso documento sobre Urrós é o “Tombo dos bens da comenda de Algoso”, de 1684. Nesse documento, são demarcados com clareza os limites da freguesia: “Comesa desdonde chamão ao Baceial junto ao rio Douro e core rio abaixo ao Castello de Oleiros e dahi vai rodeira asima ate as Penas de Luis Sanches e dali vai ao Péguão de Gemonde e corta por baixo da Cortinha do Marmeleiro que oje de Manoel Pires deste luguar por sima da Ribeira donde esta hum marquo com hua cruz e dahi vai as Penas da Siara e core ao piquão e quabeço do Chelrequo donde esta hum marquo entre dous penedos nos quais esta uma cruz e dahi vai a Pena donde se fazem as cartas e escrituras donde esta hua cruz e dali vai a Pena Figueira e core a Pena do Vasso e dali corta ao Quabeço do Quaguadeiro, e dahi toda a rodeira e estrada diguo em te a estrada de Brinhosinho toda a estrada e rodeira ate a estrada de Mourisquo”. Um curioso documento e que na época deu aso a fortes polémicas entre Urrós e as povoações circunvizinhas.
Em 1710, durante a Guerra dos Setenta Anos, os espanhóis invadiram a área. Foi então quando Urrós foi erigida na sua localização atual, depois ter deixado o castelo de Oleiros. Em 1718, o rei renovou seu legal e torna-se uma nova Tombo na localidade. Depois da guerra com Espanha em 1762, muitas pessoas começaram a viagem de migração ou do exílio, principalmente para Salamanca e Zamora. Isso afetou mesmo as famílias mais importantes, como os Rodrigues de Algoso, que depois de passar por Villalube, Benegiles e Fresno de la Ribera estabelecerom-se em Alcañices. Até 1771 não foi reconstruída a igreja paroquial, cujo altar barroco foi o trabalho do artista plástico Francisco António da Silva, de Mogadouro, enquanto a madeira foi de José Gonçalves, de Sanhoane).